BAND FM CAMPOS

A arte da solidão

Por Luiz Roberto Duncan

Do latim solitudo, a solidão está presente nas mais diversas formas de expressão. Mais do que um estado ou um sentimento a solidão está inscrita na história do homem. Como disse Martin Heidegger: “ estar só é a condição original de todo ser humano, cada um de nós é só no mundo”, e “o homem se torna autêntico quando aceita a solidão como preço da sua própria liberdade”.

Com certeza o sujeito humano, vivendo em metrópoles com grandes recursos tecnológicos e se afastando de investimentos culturais e sociais, favorece, como consequência, o surgimento de um ser mais solitário, da ordem do privado, de um isolamento muitas vezes perigoso. Mas, muitas vezes também como forma diferente de comunicação, uma reação dialética se expressando contra o discurso moderno que determina modos de ser e estar no mundo, impondo a solidão como algo negativo. É interessante pensar a arte como paradoxo desse discurso, a arte como possibilidade de viver e criar na solidão, aferindo-lhe um caráter positivo. Assim, a solidão passa a ser um recanto, uma possibilidade de contato tanto quanto com a criatividade como com nosso próprio mundo psíquico.

O ato, que a solidão promove através da arte, da criatividade poética, da música e outros dispositivos, esvazia esses laços que o discurso moderno impõe com suas regras, normas e leis é, pois, uma forma de se libertar deles e se disponibilizar para outras relações sociais

A solidão é um sentimento da presença de ausência, ela é essencialmente simbólica. O bom humor e a alegria tirados da solidão ocorrem quando possuímos um mundo interno esplêndido em palavras, em boas recordações. Um grande mundo simbólico que nos amplifica, por meio do qual podemos atinar partes de nossa história. Então, quando a só podemos nos divertir com nossas faltas. Como diz Lacan. “O desejo é uma relação do ser com a falta. Esta falta é falta de ser, propriamente falando. Não é falta disso ou daquilo, porém falta de ser através do que o ser existe”. Então, existe um vazio que nos constitui e o desejo sempre em falta, move a vida.

Nossos limites e nossas faltas nos pertencem, são de nossa própria responsabilidade e não do outro. Ao inverso do que se pensa, só é possível estar legitimamente com o outro quando se sabe estar só. Assumir as próprias falhas e responsabilidades é um bom caminho para se lidar com as diferenças que surgem ao longo dos relacionamentos amorosos.

* Este texto não reflete, necessariamente, as opiniões de WNotícias e Band FM Campos

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