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Perdas e ganhos

Por Luiz Roberto Duncan

Foto: Reprodução

Existe um trabalho de Freud, muito interessante, sobre ganhos primários e secundários. O ganho primário é aquele que decorre direta e objetivamente da doença. Por exemplo, certos sintomas impedem uma pessoa de fazer uma viagem indesejada ou atender a qualquer outro compromisso desagradável. Neste caso, a doença poupa o indivíduo de um conflito entre forças psíquicas opostas. Os ganhos secundários são os benefícios que um transtorno, doença ou situação pode oferecer a uma pessoa. Ou seja, os benefícios primários e secundários são os proveitos que o paciente tira de sua enfermidade.

Um exemplo clássico de ganho secundário ocorre na infância: uma criança acorda com febre e tosse; a mamãe mede a temperatura e constata que seu filho está realmente com febre; muitas vezes, sua primeira decisão é que ele não irá para a escola, ficará de cama sendo medicado e recebendo uma atenção a mais. A criança além dos cuidados para a recuperação de sua saúde, também receberá os benefícios implicitos e explícitos dessa relação, transformando uma situação negativa (a doença), em algo positivo (amor e carinho). As oportunidades que a doença oferece para que o indivíduo escape de determinadas situações conflitivas e penosas são geralmente inconscientes.

Quanto mais tempo a pessoa conseguir perpetuar a situação de manter a enfermidade, mais crônica vai ficando a doença podendo até chegar a um quadro irreversível.

Assim, há uma adaptação ao sintoma e uma procura por obter o maior ganho possível. O aparecimento de um sintoma pode conferir certa redução de independência, o que pode vir a ser explorado pelo adoecido a fim de atenuar alguma exigência externa. Com isso, gradativamente a sintomatologia acaba por gerar um benefício secundário (FREUD).

É comum tentar garantir a continuidade dos benefícios secundários, o paciente “boicota” o tratamento, esquecendo-se das medicações, das sessões, ao mesmo tempo que enfatiza, às vezes, muito exageradamente, sua condição de doente. É essencial continuarem enfermos, intensificando sintomas e demandando cuidados que até confundem os mais próximos.

Então, o ganho primário afasta o sujeito dos conflitos que a vida gera, estimulando as dúvidas e a falta de atitudes. O ganho secundário são as vantagens, na verdade desvantagens, que as pessoas têm quando o sintoma é usado para controlar pessoas ou situações e dificultar o tratamento. Pessoas emocionalmente dependentes, frustradas e decepcionadas com as escolhas que fizeram, são as mais propensas a desenvolverem esse comportamento, imerso de pensamentos negativos.

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