BAND FM CAMPOS

A mulher e a poesia

Por Luiz Roberto Duncan

Foto: freepik.com

A feminilidade traz um ar de mistério, indiscutível, frequentemente incompreensível para os homens, que tentam apreender do ponto de vista masculino, ou seja, da posição do todo poderoso, como a maioria o faz. Pensar o mundo feminino exige uma ruptura na maneira racionalmente masculina de pensar. Uma ruptura com a forma e com a lei contemplado pelo olhar e o entendimento de um universo formado pelo julgamento masculino. As mulheres são únicas e só podem ser pensadas uma a uma. A feminilidade é frágil e vacilante, demandando sempre de uma identificação que a represente.

É comum escutar que os homens são mais racionais, eles transam e dormem, a mulher sente uma necessidade de estar sempre argumentando a relação. O próprio ato sexual para a mulher está além do prazer do órgão físico, ele traz a proporção da sua feminilidade enigmática e elas precisam falar e falam. Numa tentativa de explicar o mistério da sua realidade psíquica, ficam angustiadas para fazer o companheiro entender. Algo do incognoscível, do inacessível que insiste em se fazer representar.

Ser desejada, para a mulher, é imprescindível, dá-lhe uma representação sobre si mesma, ouvir que é amada é importantíssimo, aponta uma falta nesse sujeito que a ama, sem isso não é possível amar. Aquele homem que esconde suas falhas e faltas tentando satisfazê-la em um todo, será por ela renunciado e denunciado, visto que sua insatisfação irá aumentar e o medo de desaparecer enquanto sujeito aumentará, colocando em risco o lugar da sua feminilidade marcado pela falta. Ela deseja ser desejada, mas tem uma condição, a condição é conduzi-lo e inspirá-lo “ele é o rei, mas não governa”. É pelo que ela não é que deseja ser amada e desejada, ou seja, não é pelo corpo ou beleza, daí a pergunta “o que ele ama em mim”. O feminino, então, diz respeito ao que não se inscreve na cadeia simbólica, mas aquilo que não para de não se escrever, o que equivale dizer, pede para se inscrever.

A psicanálise lacaniana, aponta-nos que um dos traços fundamentais do desejo feminino é o de estar essencialmente ligado ao vazio. Isso permite que a mulher mude com mais facilidade que o homem. É justamente pelo fato de seu próprio ser , estar atravessado pelo vazio, por se reconhecer no vazio, que a tarefa de interpretar qualquer personagem se torna tão disponível a uma mulher.

Existe um vazio no coração que nunca será preenchido, uma das formas de amar e deixar este lugar vivo no coração do ser amado. Sem a mulher, com certeza, a poesia não existiria.

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