A saída de Biden e o destino das eleições

Por Eduardo Cunha

Foto: PMCG

Em artigo anterior, tratei do atrelamento do destino de Biden ao de Lula, levantando os cenários possíveis, dentro da especulação da possível substituição de Biden por outro candidato mais competitivo, em função da flagrante perda da capacidade de governar de Biden.

O envelhecimento de Biden, acentuado nos últimos 12 meses, depois de completar 80 anos, começou a incomodar os norte-americanos, que têm a Presidência como uma instituição forte, que precisa dar demonstrações constantes de vitalidade, para a manutenção do poder do país.

Também é inevitável uma comparação do risco Biden, com o risco Lula, sendo que Lula embora um pouco mais novo que Biden, terá no momento da sua tentativa de reeleição, a mesma idade que Biden tem hoje, tornando bem claro para todos, que realmente também existe o mesmo risco por aqui.

É claro, que aparentemente, Lula está melhor que Biden, mas também sabemos que nessa idade, as coisas podem mudar em um processo muito rápido, principalmente se agregarmos ao risco, não só a idade na hora da reeleição, mas os 4 anos seguintes, do que seria um 4º mandato de Lula, caso vença a sua tentativa de reeleição.

Escrevi naquele artigo, que Lula de qualquer forma, ficaria em uma sinuca de bico com o desfecho da situação de Biden, pois se ele continuasse candidato e perdesse, essa derrota refletiria nele.

Se Biden ficasse e ganhasse a eleição, o comportamento do seu governo, em seguida, iria refletir na eleição daqui, pois seria também inevitável a comparação com os eventuais tropeços de Biden, ou demonstrações de fraqueza.

Também aventei a hipótese da desistência de Biden, podendo dessa forma, ficar Lula sujeito, à época da sua tentativa de reeleição, a mesma pressão pela desistência, principalmente se o candidato ou a provável candidata substituta vencer a eleição americana.

Por óbvio, Lula não terá nunca os mesmos problemas políticos que Biden tem, pois aqui o seu partido se renderá a qualquer que seja a decisão de Lula, de se candidatar ou não à reeleição. Lula só não será candidato se não quiser, ou se se convencer de que perderá a eleição, para não terminar a sua vida pública com uma derrota na sua história, por qualquer que seja o motivo.

Desde que escrevi aquele artigo, teve mais um fato muito relevante na eleição norte-americana, com a tentativa de assassinato de Trump, em circunstâncias estranhas, ainda não esclarecidas, mas que provocou a demissão da chefe do Serviço Secreto estadunidense, responsável pela segurança dos presidentes e ex-presidentes norte-americanos. A tentativa de assassinato foi tão bizarra, facilmente evitável por uma segurança eficiente, que dá para desconfiar de uma conspiração.

Nunca esqueçamos, que os Estados Unidos já carregam na sua história, episódios mal explicados de assassinatos de presidente ou de personalidades políticas em passado recente.

Teria sido uma conspiração para tirar Trump da eleição e garantir a reeleição de Biden? Biden teria renunciado por isso, ou simplesmente não aguentou a pressão? Qual o papel de Obama nessa história? Será que queria fazer a sua mulher a candidata?

Será que Biden, ao desistir, resolveu apoiar a sua vice Kamala, apenas para evitar a entrada da mulher de Obama, já que as duas têm perfis semelhantes, embora a mulher de Obama fosse mais competitiva?

Qual a razão de que Obama, no momento da desistência de Biden, não manifestou imediato apoio à candidatura da atual vice-presidente, sucessora natural da candidatura, pela lógica política?

Obama foi, segundo muitas notas publicadas na imprensa, o principal responsável para desestabilizar a candidatura de Biden, pressionando pela sua desistência. Talvez Obama tenha cometido o mesmo erro que Trump cometeu ao aceitar fazer um debate com Biden, antes que ele fosse oficializado em convenção, candidato pelos democratas.

Trump, como eu já havia dito anteriormente, não aguentou a ânsia de vingança contra Biden, e o nocauteou antes da hora, permitindo a recomposição dos seus adversários, colocando em risco uma vitória certa, por uma eleição indefinida, na qual tudo pode acontecer, podendo ter jogado fora a sua oportunidade de redenção, ou até mesmo o seu futuro em liberdade.

Se Trump não vencer a eleição, terá a efetivação de condenações, que podem vir até mesmo a tirar a sua liberdade. Já Obama, se tinha planos para a sua carismática mulher ocupar o seu antigo lugar, talvez fosse melhor ter deixado o Biden ser candidato.

A provável derrota de Biden, iria causar uma crise nos democratas, que levaria Michelle Obama a ser a provável sucessora da liderança do processo eleitoral norte-americano, ficando com uma candidatura bem viável, para enfrentar um republicano qualquer como sucessor de Trump, que não teria direito a reeleição, pois nos Estados Unidos, diferentemente do Brasil, nenhum cidadão pode deter mais de 2 mandatos de presidente na sua vida.

Por aqui, além de termos o absurdo da possibilidade de reeleição, ainda temos também a possibilidade de transformarmos a República em monarquia, em que Lula poderá alcançar um 4º mandato por isso, tornando-se um rei do Brasil.

Obama, assim como Trump, parece que sofreu da mesma ansiedade, de não saber esperar o seu momento oportuno de triunfar.

O resultado disso foi que Kamala Harris foi rápida e habilidosa, assegurando apoios, que reúnem a maioria dos delegados democratas a convenção do seu partido, praticamente garantindo a sua nomeação, levando a Obama a ser obrigado a lhe declarar apoio, depois que ela já teve a sua vitória assegurada, tornando irrelevante o seu apoio, para que ela conquistasse o direito a candidatura.

Kamala será a adversária de Trump, e pode mesmo vencer a eleição, já que o furacão da desistência de Biden, abafou até mesmo a tentativa de assassinato de Trump, que parece mesmo atordoado com a saída do seu adversário fácil de ser derrotado, mas que ele não soube esperar o dia exato para derrotá-lo.

Isso não quer dizer que Trump não tenha condições de recuperar o baque, mas precisa refazer a sua estratégia, e ter muito cuidado com os embates.

Trump quando venceu em 2016, venceu a mulher de outro ex-presidente, Hillary Clinton, mulher de Bill Clinton. Naquele momento, ele venceu a eleição, mas perdeu na votação geral, sendo que como todos sabem, no critério das eleições norte-americanas, de eleição indireta por um colégio eleitoral, quem vence a eleição direta em cada Estado, leva todos os votos dos delegados do seu respectivo partido, naquele Estado.

Essa conjugação de vitórias estaduais, levou a vantagem de Trump, mesmo tendo perdido a votação geral.

Esse fato pode se repetir em 2024, quando Kamala pode vencer Trump na votação geral, mas perder a eleição pelas vitórias de Trump nos Estados mais conservadores, principalmente pela polêmica do aborto por lá.

Todos sabem que nos Estados Unidos havia autorização para o aborto legal, quando a Suprema Corte de lá mudou o seu entendimento anterior, permitindo que os Estados legislassem sobre o aborto, autorizando ou proibindo. Isso levou a maioria dos Estados a mudarem as suas legislações, ou refazer o debate sobre o tema, que deixou de ser competência federal, e passou a ser de competência estadual.

Dessa forma, os Estados mais conservadores conseguiram efetivar a proibição do aborto. Trump ficou do lado dos que são contra o aborto, mas Biden e Kamala se tornaram militantes a favor do aborto. Certamente, o debate sobre o tema será decisivo para o resultado das eleições. Dificilmente nos Estados em que a legislação foi alterada para proibição do aborto, Kamala conseguirá vencer.

Trump sabe disso, e já começou a atacá-la nesse sentido, porém o cuidado que ele tem de ter, é dosar o tom dos ataques, para não aumentar a sua rejeição já existente no eleitorado feminino, e nem de vitimizar a sua opositora, pelos ataques.

Agora, de qualquer forma, é impressionante a instabilidade do processo político e imprevisível o nosso futuro, atrelado ao futuro norte-americano, por mais que queiram contestar essa versão.

Trump venceu em 2016, permitindo a ascensão de Bolsonaro por aqui. Trump perdeu em 2020, permitindo que Bolsonaro acompanhasse o seu destino, sendo o único presidente na nossa história, que não conseguiu a sua reeleição, talvez por ter seguido Trump em todos os seus erros.

Agora, teremos a mesma chance de destinos semelhantes, será que Lula será como Biden, seja desistindo da reeleição, ou estando sem condições de passar a vitalidade, que a nação precisa e um presidente? Será que Lula repetirá Bolsonaro, e será que poderá ser o 2º presidente a perder a sua reeleição?

Lula vem tentando, depois da discussão sobre Biden, demonstrar essa vitalidade, viajando e até apregoando uma vitalidade, que não pode ser vista pela população, chegando ao cúmulo e baixaria, de mandarem perguntar a sua mulher se ele ainda está “com tesão de 20 anos”.

Primeiro que não está, pois é impossível que um homem com 80 anos, tenha “tesão de 20 anos”. Segundo que mesmo que tivesse, isso não tem a menor importância, pois o país não precisa de um atleta sexual para o comandá-lo, mas alguém que tenha capacidade, condições físicas, mentais, emocionais e políticas de conduzir os brasileiros.

As suas alegadas estripulias, a 4 paredes, com a sua mulher, não são do interesse dos brasileiros, e não podem servir de argumento para convencer, de que Lula amanhã não será o Biden de hoje.

Que Deus lhe dê muita saúde para que possa viver muitos anos, chegar até os 120 anos que ele almeja chegar, mas que só permita que ele continue comandando o nosso país, se tiver as mínimas condições, que Biden não tem mais.

Isso se a parte da avaliação das suas condições pessoais, ele conseguir convencer o país que o seu governo merece ter continuidade, o que me parece nesse momento pouco provável, pelos resultados pífios que vem apresentando, além da polarização a cada dia mais forte no nosso país.

Se Trump vencer, o destino de Lula será semelhante ao destino dos democratas nos Estados Unidos. Se Trump perder, vai depender do que se passará por lá depois, além do que vai ocorrer na avaliação do seu governo.

De toda forma, o destino de Lula continuará atrelado às eleições norte-americanas e as suas consequências, assim como ao seu próprio comportamento em relação a temas espinhosos, dentre os quais a sua forma de reação ao que vai ocorrer na Venezuela também terá sérios reflexos por aqui, mas isso será tema de outro artigo.

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