O que era para ser um dia de diversão se tornou uma experiência muito frustrante. A medalhista paralímpica e campeã mundial de vôlei sentado Luiza Fiorese esteve no Beto Carrero World, um dos maiores parques temáticos da América Latina, localizado em Penha (SC), nesta quinta-feira (05), e foi impedida de ir em quase todos os brinquedos do local, sob a alegação de que era inapta às atrações por conta de sua deficiência, já que ela não consegue dobrar uma das pernas. A atleta utilizou as redes sociais para relatar o episódio
´´Estou no Beto Carrero e tentei me acalmar um pouco para fazer esse vídeo porque estou muito p***. Eu queria dizer para todas as pessoas com deficiência que eu conheço que esse não é um lugar para vocês. Vocês não são bem-vindos aqui. Não tem nada preparado para pessoas com deficiência. Não tem nada que pelo menos coloque a gente em um lugar de pertencimento, que entende as nossas limitações´´, disse a atleta em um vídeo publicado em seu Instagram.
Luiza Fiorese teve câncer nos ossos aos 15 anos de idade e, por isso, usa uma prótese interna que não permite que ela dobre o joelho da perna esquerda. De acordo com a atleta, o parque alegou que não dobrar a perna seria um “risco” e, por isso, ela não pôde ir na maioria dos brinquedos. O único que lhe foi permitido foi o “trenzinho”, destinado ao público infantil.
´´Eu sempre fui muito compreensiva com as coisas. Sempre entendi que talvez lugares menores ou que não conseguem se adaptar, está tudo bem. Nunca fui de fazer esse vídeo aqui, só que olha o tamanho desse lugar, o tanto de gente e o tanto de dinheiro que recebe. Em dez carrinhos, não pode fazer um maior? Um carrinho com uma adaptação? A gente não é bem-vindo aqui, eles simplesmente ignoraram que a gente existe´´, continuou a atleta.
Falta de acessibilidade irrita atleta
Em contato com o ge, Luiza relatou que era negada de alguns brinquedos sem ao menos tentar se acomodar e, em outros, chegava a se posicionar e era barrada. Em uma das atrações, ela precisou subir três lances de escada porque o elevador era destinado apenas para cadeirantes. Também não havia indicação de fila preferencial para pessoas com deficiência, segundo a atleta.
Depois de ser negada diversas vezes, sua última tentativa foi no “Spin Blast” – um disco gigante que gira em cima de um trilho com o formato de onda. Luiza chegou a se acomodar junto com as demais pessoas, mas teve que se retirar quando todos já estavam preparados para o início da atração. Ela não pôde participar porque seu pé ultrapassava em alguns centímetros a base do brinquedo.
´´Achei que finalmente daria certo porque fiquei um tempo observando lá, e as pessoas durante o uso do brinquedo deixavam realmente a perna esticada, solta, e achei que iria conseguir. Então sentei, e antes de começar, a menina me abordou e falou que eu deveria dobrar o joelho. Discuti e saí chorando bastante, desesperada´´, falou ao ge.
Através de nota oficial, o Beto Carrero World lamentou a experiência negativa de Luiza e justificou que o parque segue “normas internacionais rigorosas dos fabricantes das atrações para garantir segurança para todos”. Confira o comunicado completo ao final do texto.
A medalhista paralímpica alega que não recebeu nenhum tipo de apoio dos funcionários do parque. Ao fim da má experiência, ela procurou a área administrativa e recebeu um formulário para preencher contando sobre o ocorrido.
´´O que mais me irritou foi que em todos eles (brinquedos), os funcionários só diziam: “Infelizmente, você não pode. Próximo”. Não tentavam, não eram empáticos. Ou seja, o lugar é completamente inacessível e eles não fazem questão nenhuma que os funcionários tenham empatia´´, disse a atleta.
Luiza teve que andar a pé nos 14 km² de extensão do parque, depois que foi oferecida apenas uma cadeira de rodas para ajudar em seu deslocamento. O local possui aluguel de scooter elétrica, mas o preço sai em um valor superior ao dobro da diária do ingresso, sem desconto para pessoas com deficiência. No passeio, ela esteve acompanhada do namorado Gabriel Garcia, velocista que disputou os Jogos Olímpicos de Paris-2024 e foi atleta-guia de Jerusa Geber na Paralimpíada.
Luiza Fiorese é natural de Venda Nova do Imigrante (ES) e tem 27 anos de idade. Ela é atleta da seleção brasileira de vôlei sentado feminino e esteve na equipe que conquistou a medalha de bronze na Paralimpíada de Tóquio-2020 e o inédito título mundial em 2022. A jogadora também disputou a Paralimpíada de Paris, em que acabou em quarto lugar.
Nota do Beto Carrero World sobre as denúncias de Luiza Fiorese:
“Entendemos e respeitamos profundamente as necessidades e desafios de cada visitante, incluindo os da atleta Luiza Fiorese, e lamentamos que sua experiência no parque não tenha sido ideal. A missão do Beto Carrero World é proporcionar momentos de diversão e experiências inesquecíveis para todos. No entanto, a segurança é nossa prioridade. Seguimos normas internacionais rigorosas dos fabricantes das atrações para garantir segurança para todos.
Além dos brinquedos, oferecemos uma diversidade de shows e experiências que encantam e acolhem, reforçando nosso compromisso com a inclusão. Iniciativas como o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência e o Passaporte Kelly refletem nosso esforço contínuo em tornar o parque acessível e especial para todos. Continuamos dedicados a criar momentos de alegria com cuidado, empatia e respeito.”
Fonte: GE