Carnaval, fantasia, confete, serpentina e… não é não!

Por Renata Souza

Foto: Reprodução

Chegamos ao momento mais esperado do ano para a maioria dos brasileiros: o Carnaval! Época em que as ruas são tomadas pelos tradicionais bloquinhos, que a cada ano conquistam mais adeptos em todo o Brasil. Um período em que a liberdade de expressão, o movimento, os desejos e a criatividade atingem sua potência máxima. Um momento do ano em que a ordem social vigente parece ser substituída pela lógica da permissividade — afinal, tudo pode, porque é Carnaval!

A impressão é que trocamos a estrutura social cotidiana pela lógica cantada por Chico Buarque de Holanda: “não existe pecado do lado de baixo do Equador”. As pessoas se juntam para celebrar a “maior festa da Terra”, onde ricos e pobres podem se encontrar e festejar juntos, deixando de lado, ainda que temporariamente, as hierarquias sociais que os separam no restante do ano. Pessoas negras, que ao longo do ano são invisibilizadas, barradas e violentadas, tornam-se protagonistas.

As fantasias nos permitem ser quem quisermos. Podemos nos transformar em reis, rainhas, palhaços, dançarinas. Nossas dores e dificuldades são encobertas e colocadas para baixo de nossas máscaras alegres. É o momento em que nossas amarguras são substituídas pela emoção de ver nossa escola favorita entrando na avenida. Como disse o antropólogo Roberto DaMatta: “o Carnaval é a possibilidade utópica de mudar de lugar, de trocar de posição na estrutura social”.

Mas, apesar da fluidez e da liberdade que o Carnaval proporciona, é fundamental lembrar que NÃO continua sendo NÃO, mesmo durante a festa. Ou seja, o bom senso e o respeito são itens indispensáveis no “kit carnavalesco” de qualquer folião. O calor excessivo, a pouca roupa e o álcool não são convites para que o corpo de uma mulher seja tocado ou beijado sem seu consentimento.

Precisamos nos despir das fantasias do machismo e da violência, que ainda fazem parte do nosso cotidiano de forma alarmante. Desmascarar o assédio disfarçado de paquera é urgente, seja no Carnaval, na noite ou na Sapucaí. O ponto aqui não é proibir o flerte ou a paquera, nem impor uma lógica moralista sobre as trocas afetivas efêmeras desse período. A questão é garantir que essas interações sejam decisões mútuas e não imposições unilaterais.

Porque quando uma mulher diz NÃO, ela quis dizer NÃO. Qualquer atitude invasiva após a negativa configura assédio. Vale lembrar da Lei 13.718/18, que criminaliza a importunação sexual e estará presente na avenida. Quem praticar toques inapropriados, como as famosas encoxadas, sem consentimento, está sujeito a pena de prisão. Tocar, beijar, agarrar ou cometer qualquer outro ato libidinoso sem consentimento, visando apenas satisfazer o próprio desejo, pode resultar em uma pena de um a cinco anos de reclusão.

Que neste Carnaval nós, mulheres, possamos brilhar com toda a nossa purpurina e nos divertir com nossas fantasias, confetes e serpentinas, sem sermos encoxadas, puxadas, importunadas ou beijadas sem consentimento. O Carnaval deve ser apenas sinônimo de festa e alegria. Os homens precisam compreender de uma vez por todas que NÃO É NÃO! E, em caso de insistência, disque 180.

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