Cirurgia da “língua presa” já beneficiou mais de 1.200 bebês em quatro anos na cidade de Campos

A frenotomia é indicada para as crianças que têm diagnóstico de encurtamento do freio lingual, podendo apresentar dificuldade para se alimentar corretamente no peito, atrapalhando a sucção durante a amamentação

Por Sâmela Braga

Foto: Kelly Maria

O município de Campos, por meio do Departamento de Odontologia da Secretaria Municipal de Saúde, vem realizando, gratuitamente, a cirurgia para liberação do frênulo lingual (frenotomia) em crianças que nascem com a chamada “língua presa” (Anquiloglossia). Entre os anos de 2021 e 2024, 1.211 bebês foram beneficiados pelo procedimento.

A frenotomia é indicada para as crianças que têm diagnóstico de encurtamento do freio lingual, podendo apresentar dificuldade para se alimentar corretamente no peito, atrapalhando a sucção durante a amamentação. Em outras fases da vida, pode haver interferência na forma de comer ou falar.

“Assim que diagnosticada a Anquiloglossia por profissionais habilitados, tendo indicação cirúrgica, a frenotomia deve ser realizada para que não ocorra o desmame precoce dos bebês no seio materno”, aconselhou Rachel Cunha, que é uma das odontopediatras responsáveis pelo procedimento.

A profissional explica que a frenotomia é feita no consultório, com anestesia local. O procedimento é rápido e, após a cirurgia, o bebê pode mamar imediatamente. “Não é necessário aplicar pomadas ou cremes na área operada, pois a cicatrização ocorre naturalmente, e o leite materno ajuda nesse processo. Só recomendamos o uso de analgésicos apenas se o bebê estiver muito irritado, pois pode estar com dor. Além disso, não aconselhamos o uso de chupetas no pós-operatório, porque interfere na cicatrização”, informou a dentista, reiterando que a amamentação é considerada crucial para a recuperação e desenvolvimento da língua, já que o peito é o melhor estímulo para que a língua exerça suas funções corretamente.

Rachel ressalta que o primeiro sinal a ser observado é durante a amamentação. Embora alguns bebês com língua presa consigam mamar sem problemas, é crucial analisar a postura e a posição da língua, pois isso pode impactar na introdução alimentar e na deglutição. “O freio da língua pode afetar a fala, mas não é o principal motivo para realizar uma cirurgia em bebês. A decisão deve ser baseada na amamentação e na função da língua, considerando que nem todo freio alterado requer cirurgia. O procedimento é simples, especialmente em bebês pequenos, mas deve ser indicado de forma precisa após uma avaliação completa das funções orais da criança”, finalizou.

FLUXO DE ATENDIMENTO

A indicação para o procedimento cirúrgico é feita nas maternidades ou no Centro Municipal de Imunização e Testes de Triagem Neonatal, durante o teste da linguinha, através do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente (PAISMCA). A coordenadora do programa, Rayssa Gonçalves Machado, explica que o primeiro passo é uma nova avaliação pela Secretaria de Saúde, onde as crianças são atendidas por uma fonoaudióloga e uma odontopediatra. Os atendimentos ocorrem nas tardes de segunda-feira e durante todo o dia na terça e na quinta-feira.

“A avaliação determina se a cirurgia é necessária, mas nem todas as crianças precisam passar por ela. Algumas podem ser acompanhadas sem cirurgia, e a importância da reavaliação é destacada. Se a criança nunca foi avaliada, também é feito o teste da linguinha. Os atendimentos são por livre demanda, sem necessidade de agendamento prévio”, informou.

“Após a confirmação da alteração do frênulo lingual detectado pelo teste da linguinha, os bebês são encaminhados ao Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), para realização do procedimento cirúrgico pelos odontopediatras e, posteriormente, acompanhados por meio de consultas periódicas. É importante ressaltar que esses pacientes têm por garantia o acompanhamento e tratamento odontopediátrico de 0 aos 11 anos e 11 meses de idade”, acrescentou o assessor técnico do Departamento de Odontologia, José Luiz de Oliveira Carvalho.

O teste da linguinha tornou-se obrigatório, por meio da Lei Federal nº 13.002 de junho de 2014. O procedimento deve ser feito, preferencialmente, no primeiro mês de vida do bebê, mas pode ser realizado até os seis meses.

POPULAÇÃO BENEFICIADA

Para a dona de casa Melissa Mathias, de 27 anos, desde que o pequeno Heitor, de 4 meses, passou pelo procedimento, a diferença já é nítida. “Ele fez a cirurgia no dia 7 de abril e eu notei bastante melhora na mamada, porque ele tinha muita dificuldade. Todo processo foi muito rápido, e em dois dias ele já estava fazendo a cirurgia”, disse a jovem, que voltou com o filho para a revisão.

A autônoma Jane Kelly França Braga, de 38 anos, falou que a frenotomia será de extrema importância para a pequena Sarah, de apenas 1 mês. “Ela nasceu nos Plantadores de Cana e já saiu da unidade com encaminhamento para a cirurgia. Por conta do problema, ela não estava ganhando peso, porque não conseguia mamar direito. Agora, com a cirurgia, tudo vai melhorar”.

Fonte: PMCG

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