Viviane Mosé participa do oitavo dia da Bienal do Livro de Campos

Durante sua apresentação, a psicanalista destacou o papel dos responsáveis na utilização da internet por crianças

Por Rodolfo Augusto

Foto: Antônio Filho

A 12⁰ Bienal do Livro de Campos, que aconteceu até o último domingo (8),no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop), atraiu pessoas interessadas em adquirir obras literárias e presenciar apresentações culturais, como a realizada pela poeta Viviane Mosé (61), na noite da última sexta-feira (6). A pensadora fez parte da mesa “A cultura do cancelamento: o que significa ser cancelado na internet?”, na Arena Jovem, com a mediação da antropóloga e professora Thais Nascimento. A finalidade do encontro foi conscientizar o público presente acerca das características deste fenômeno social.

Ao decorrer da palestra, a psicanalista atribuiu o motivo da existência do tema da mesa à humanidade, ao contrário da perspectiva popular de vincular à internet:

´´É muito comum, na atualidade, associarmos nossas dificuldades psíquicas à rede social, mas eu discordo. Não podemos problematizar a internet, pois esta questão acontecia nas ruas com 30 casas, quando ela ainda nem existia. A internet possibilitou a ampliação desta ação, que é o verdadeiro problema. O crescimento da indústria farmacêutica proporciona a manipulação das informações e inclusive, assedia os médicos psiquiátricos em seus diagnósticos e a população por meio das mídias abertas e fechadas. A cultura do cancelamento não é a plataforma que é usada para propagá-la, mas sim o agente e a ação”, afirmou a convidada.

A palestrante aproveitou a oportunidade para usar de exemplo um caso que ocorreu com uma pessoa conhecida:

´´Posso dar o exemplo de uma mulher que eu conhecia ,que foi taxada de sequestradora de crianças, numa época em que muitas estavam sendo sequestradas no local onde ela vivia. Depois de ser denominada por um grupo de indivíduos como a responsável pelos crimes, por meio da cultura do cancelamento, foi morta a pauladas. Após um tempo, foi comprovado que ela não tinha relação com aquilo tudo. O cancelamento é um jogo perigoso, feito pelo adoecimento humano”, acrescentou a mestre e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O jornalista, Antônio Filho (39), um dos responsáveis pela organização da Bienal, ressaltou o perigo da cultura do cancelamento, em proximidade das eleições presidenciais:

´´Nós estamos chegando nas vésperas de um ano de eleição presidencial, sabemos que temos um país dividido, quase meio a meio nessa disputa, então a pessoa que usa as redes sociais para difamar, que não entende que nós representamos uma democracia, na qual cada um vota em quem quiser, mas a pessoa usa a rede dela para atacar outras fatias da sociedade, sejam elas quais forem, aí eu penso que essa cultura do cancelamento vai se tornar permanente. Quem não tem postura, quem não sabe respeitar os direitos do outro, a diversidade que existe na sociedade, seja ela econômica, social, relacionada a etnia, a sexualidade, quem não sabe conviver em sociedade e usa redes para fazer esse tipo de discurso de ódio associado ao cancelamento, não está praticando uma modinha. Agora, essa coisa de cancelar todo mundo por bobagem, isso passa, mas eu tenho certeza de que aqueles que têm a opinião formada de fazer da internet um território de coisas ruins prejudicando o próximo, esses com certeza vão viver da cultura do cancelamento, vão ser vítimas da cultura do cancelamento”, afirmou o escritor.

O professor Vitor Menezes, preferiu citar uma perspectiva que não é tão abordada pela sociedade:

“Bom, essa discussão do cancelamento, ela tem várias camadas. Você pode, a princípio, tratar a questão com uma certa rejeição, até pelo tom pejorativo do termo, cancelamento, que é muito violento. Você cancelar, parece que está interditando o debate, que você está anulando uma figura pública, que você está até censurando. Por outro lado, pode ser percebido como uma nova ferramenta, com maior horizontalidade, de manifestação de grandes coletividades, sobretudo por insatisfações identitárias ou de opinião. Então é uma quantidade de pessoas muito grande exercendo seu poder de cidadania e de articulação coletiva, que se tornam hostis ou não gostam, ou que querem manifestar sua rejeição a determinado tema ou determinado motivo. O termo é forte, mas se você olhar o copo meio cheio, olhar com algum otimismo o fenômeno, você pode perceber isso como uma articulação mais horizontal das pessoas manifestando, espontaneamente, ou nem sempre tão espontaneamente, mas tão espontaneamente quanto possível, a sua rejeição a alguma ideia ou a alguma pessoa. Isso não era possível antes e agora é possível com as redes sociais. Eu sei que é um modo diferente de ver a questão, porque normalmente a gente parte da rejeição que tem o termo cancelamento, mas se esvaziar esse tom pejorativo do termo cancelamento e pensar nisso como uma coisa mais horizontal de manifestação das pessoas com relação a algum tema ou pessoa, pode ser algo positivo”, verbalizou o escritor.

SOBRE O EVENTO – A 12ª Bienal do Livro teve a realização da Prefeitura de Campos, contando com os patrocínios da Ferroport e da Ecourbis – Vital Engenharia, por meio da Lei Rouanet, Ministério da Cultura e Governo Federal. O evento teve a organização da FCJOL, Seduct e Secretaria de Turismo.

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