Cidade da Polícia Civil foi o palco da negociata para o tráfico de 16 toneladas de maconha, diz PF

Alvos de operação, quatro agentes em viaturas da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas escoltaram a droga até Manguinhos

Por Otávio Fonseca

Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo

Equipes da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio prenderam quatro agentes da Polícia Civil e um advogado durante uma ação deflagrada na manhã desta quinta-feira. Todos são alvos da operação Drake pela prática de tráfico de 16 toneladas de maconha, além de corrupção. À época, após a apreensão da droga, a negociata ocorreu, segundo as investigações, na Cidade da Polícia Civil do Rio. Os policiais usaram viaturas da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) no momento do crime.

Também foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, expedidos pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Resende/TJRJ. Cerca de 50 agentes estão na capital fluminense e em Saquarema, na Região dos Lagos, em endereços ligados aos envolvidos, já denunciados pelo Ministério Público. Um deles foi a Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas, que fica na Cidade da Polícia, local que reúne outras especializadas, como a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).

Os presos são os policiais Alexandre Barbosa da Costa Amazonas; Eduardo Macedo de Carvalho; Renan Macedo Villares Guimarães; e Juan Felipe Alves da Silva; e o advogado Leonardo Sylvestre da Cruz Galvão. Silva é ex-chefe do setor de investigações da DRFC e da DRFA.

A investigação teve início com ação integrada do serviço de inteligência da Polícia Rodoviária Federal com a PF. Em agosto deste ano, duas viaturas ostensivas da DRFC abordaram um caminhão, que veio de Mato Grosso do Sul, carregado com 16 toneladas de maconha na divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro. Após escoltarem o veículo até a Cidade da Polícia, os agentes negociaram, por meio de um advogado, a liberação da droga e a soltura do motorista, mediante ao pagamento de propina.

De acordo com a denúncia do MP, “os crimes averiguados são concretamente graves, pois se trata de denúncia envolvendo agentes públicos e advogado, como incursos na suposta prática do crime de tráfico de drogas interestadual, corrupção passiva e corrupção ativa”.

Em seguida, três viaturas ostensivas da especializada escoltaram o caminhão até os acessos de Manguinhos, na Zona Norte do Rio. No local, a carga de maconha foi descarregada pelos criminosos. A Cidade da Polícia e um dos acessos à comunidade fica a poucos metros de distância.

A investigação foi feita pelo Grupo de Investigações Sensíveis da PF (GISE/RJ) e pela Delegacia de Repressão a Drogas (DRE/PF/RJ) em conjunto com Ministério Público, por meio da Promotoria de Justiça de Investigação Penal de Resende.

A juíza titular da Vara Criminal da Comarca de Resende, Ludmilla Vanessa Lins da Silva, afirmou, na decisão que decretou a prisão dos policiais, que os acusados podem ter aumento de pena porque o crime foi cometido pelos policiais e na estrutura da delegacia, além de ter sido interestadual. “O crime de tráfico de drogas em tela foi cometido mediante a participação de servidores públicos, nas dependências e estruturas da CIDPOL (unidade policial), das viaturas da Polícia Civil e de seus armamentos, especialmente para a realização da escolta do caminhão, levando ao seu destino entorpecentes trazido de outro Estado da Federação, a saber, o Mato Grosso do Sul, incidindo as causas de aumento de pena previstas no artigo 40, incisos II, III, IV e V, da Lei n.º 11.343/06.”

Para o cumprimento dos mandados, a PF teve o apoio da Corregedoria da Polícia Civil do Rio. Por meio de nota, a corporação afirma que a “Corregedoria-Geral de Polícia Civil (CGPOL) apoiou a ação para cumprimento das ordens judiciais e está instaurando Processos Administrativos Disciplinares (PADs). A Polícia Civil reforça que não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta e atividade ilícita, reiterando seu compromisso de combate ao crime em defesa da sociedade”.

O nome da operação — Drake — remete ao pirata e corsário inglês Francis Drake que saqueava caravelas que transportavam material roubado e se considerava isento de culpa porque os bens tinham origem ilícita.

Fonte: Extra

Compartilhar:

RELACIONADAS

NOTÍCIAS