Apesar de as mulheres representarem 55% dos bolsistas de iniciação científica no Brasil, elas são apenas 36% dos que recebem as bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq, o mais alto grau acadêmico no país: é o chamado efeito-tesoura. Ele acontece, em parte, por causa da falta de reconhecimento dos impactos da maternidade na produção científica das pesquisadoras. Para incentivar a carreira das cientistas mães, a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), em parceria com o Instituto Serrapilheira e o movimento Parent In Science (PiS), lançou, nesta quinta-feira (2), um edital de R$ 2,3 milhões para apoiar o retorno das pesquisadoras às atividades científicas após terem se tornado mães.
O edital prevê auxílios de até R$ 120 mil para pesquisadoras vinculadas a alguma instituição de pesquisa do estado do Rio de Janeiro e que tenham estado em licença-maternidade em algum período dos últimos 12 anos. Serão selecionadas até 21 propostas. As mães cientistas terão até 7 de julho para se inscrever e concorrer ao financiamento. Confira aqui o edital.
– Evidências convergentes na literatura do Brasil e do mundo têm mostrado o impacto da maternidade no desenvolvimento das carreiras das mulheres tanto na academia quanto fora dela. Políticas e editais como este podem minimizar a perda de mulheres na ciência, aumentando a diversidade e a eficiência em contribuir para o desenvolvimento humano e social – diz a neurocientista Letícia Oliveira, presidente da Comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão da FAPERJ e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Para a diretora de Ciência do Serrapilheira, Cristina Caldas, o edital é um marco para o sistema de fomento brasileiro no quesito diversidade e, sobretudo, para reduzir a desigualdade de gênero na ciência nacional.
– Um edital como esse sinaliza a importância de reconhecer que mulheres são especialmente afetadas por interrupções em suas carreiras, e que elas podem sim continuar sendo competitivas mesmo depois de terem filhos . Sabemos do impacto que a maternidade tem na produção científica das mulheres, por isso o sistema de fomento tem que olhar com cuidado para essas interrupções, não deixando de valorizar as cientistas mães – afirma Cristina Caldas, diretora de Ciência do Serrapilheira.
É a primeira vez que o órgão de fomento à pesquisa fluminense lança um edital específico para cientistas que são mães. O projeto teve embasamento teórico pelo Parent In Science, movimento brasileiro que se tornou referência no mundo ao ganhar o “Prêmio de Mulheres Inspiradoras na Ciência”, da revista Nature, em 2021, pela divulgação de dados relevantes para os estudos acadêmicos de desigualdade de gênero.
– Esta iniciativa conjunta com a FAPERJ e o Instituto Serrapilheira representa uma ação pioneira no Brasil, destacando o compromisso em apoiar mães cientistas. Ao oferecer suporte específico para a continuidade da carreira após a maternidade, o edital não apenas reconhece os desafios enfrentados pelas mulheres na ciência, mas também promove a equidade de gênero e estimula a diversidade no ambiente acadêmico. O impacto será imenso – afirma Fernanda Staniscuaski, fundadora do Parent In Science.
Uma pesquisa de autoria do movimento e publicada na revista Frontiers in Psychology, em 2021, mostrou que, durante a pandemia, apenas 47% das cientistas que são mães tiveram êxito para terminar artigos acadêmicos. Quanto aos pesquisadores homens com filhos, 76% conseguiram submeter seus artigos conforme o planejado.
O dado, que demonstra a desigualdade no impacto da parentalidade entre os gêneros, é importante porque a quantidade de artigos publicados costuma ser requisito para pesquisadores subirem de patamar na vida acadêmica, concorrendo em editais de financiamento e em concursos.
O novo edital prevê algumas especificidades. Mães de pessoas com deficiência, por exemplo, podem submeter uma proposta independentemente da idade dos filhos. Por outro lado, não vão poder concorrer ao edital as pesquisadoras que já foram contempladas em outros editais da FAPERJ como “Apoio à Jovem Cientista Mulher com Vínculo em ICTs do Estado do Rio De Janeiro”, “Jovem Pesquisador Fluminense e Cientistas do Nosso Estado e “Jovens Cientistas do Nosso Estado”, nas chamadas referentes a 2020, 2021 e 2022.
Sobre o Instituto Serrapilheira
Lançado em 2017, o Instituto Serrapilheira é uma instituição privada, sem fins lucrativos, que promove a ciência no Brasil. Foi criado para valorizar o conhecimento científico e aumentar sua visibilidade, ajudando a construir uma sociedade cientificamente informada e que considera as evidências científicas nas tomadas de decisões. O instituto tem três programas: Ciência, Ecologia Quantitativa e Jornalismo & Mídia. Desde o início de suas atividades, já apoiou financeiramente mais de 300 projetos de ciência e de comunicação científica, com mais de R$ 90 milhões investidos.
Sobre a FAPERJ
Criada em 1980, a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro é a agência estadual de fomento à ciência, à tecnologia e à inovação. Vinculada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, o órgão apoia cerca de 9 mil bolsistas em diversos programas e projetos de pesquisa e de empreendedorismo. Os investimentos são sempre em consonância com sua missão de garantir a presença da ciência fluminense nos cenários nacional e internacional e, de forma mais abrangente, no apoio a projetos que visam promover o bem-estar da população, o combate à exclusão social e o desenvolvimento social brasileiro.
Sobre o Movimento Parent In Science
O Movimento Parent in Science é uma iniciativa dedicada a promover políticas e práticas inclusivas para apoiar mães e pais, na academia e na ciência. Fundado em 2016, o movimento busca garantir que cientistas com filhos, em especial mães, tenham acesso a oportunidades equitativas para ingresso, permanência e progressão na carreira acadêmica e científica.
Fonte: Ascom