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Julio Cesar relembra início e se emociona após ouro: “Mostra o poder de quem saiu da periferia”

Velocista também falou sobre as dificuldades que enfrentou quando começou no atletismo e dedicou medalha às crianças do bairro onde cresceu

Por Rodolfo Augusto

Wander Roberto / CPB/Divulgação

Acostumado a superar as estatísticas, Julio Cesar se tornou campeão dos 5000m do atletismo nas Paralimpíadas de Paris com “muita força de vontade”. Criado no interior de São Paulo, o velocista teve uma origem humilde e evidenciou a falta de incentivo ao esporte após a prova. Com muito orgulho de onde veio, Julio também dedicou a conquista à periferia onde cresceu e mostrou que “é possível sofrer com tantas dificuldades na vida e ser campeão paralímpico”.

Julio deu fortes declarações após conquistar o ouro no atletismo nas Paralimpíadas. Julio Cesar Agripino nasceu em Diadema, São Paulo, mas cresceu no interior do estado, em Sorocaba. Criado no bairro de Jardim São Marcos, o velocista veio de uma origem humilde e conta que não teve incentivo no início. O velocista falou sobre as dificuldades que enfrentou ao longo da vida e evidenciou a necessidade de investimento nos esportes. Campeão nos 5000m da classe T11 e recordista mundial nesta sexta-feira, Julio também dedicou a medalha ao avô e às crianças da periferia onde cresceu.

´´ Para mim, é uma emoção muito grande. Isso mostra o poder que a gente que saiu da periferia tem. Quando comecei a correr, só tinha um campinho de futebol e a minha determinação. Com muita força de vontade cheguei aqui. Não tive ajuda nenhuma da minha cidade, da minha prefeitura. Espero que agora eles arrumem aquele campinho e apoiem os moradores. De lá podem sair mais promessas. Não quero repercussão para mim, e sim fazer a diferença para o meu bairro e para a sociedade. É muito importante ter o esporte na nossa cidade, no nosso bairro. Que essa medalha seja para aquelas crianças, que elas tenham um futuro brilhante. É possível sofrer com tantas dificuldades na vida e ser campeão paralímpico. Isso mostra o quanto o periférico sabe que sua hora vai chegar´´, disse Julio.

´´Queria dedicar a uma pessoa especial também, a gente sabe que a idade bateu, a enfermidade bateu, mas é meu vô que fez e faz muita diferença por mim´´, completou.

Julio foi diagnosticado com ceratocone, uma doença degenerativa na córnea, ainda aos sete anos idade. Antes disso, ele já era atleta convencional do atletismo, mas migrou para a equipe paralímpica por meio dos treinadores do Centro Olímpico. Desde então, Julio disputa na classe T11, categoria dos atletas com deficiência visual. Nas disputas dessa classe, o atleta costuma ter dois guias. Caso um não consiga completar a prova, o outro pode assumir.

As maiores conquistas do brasileiro vieram justamente nesse ciclo paralímpico, após as Paralimpíadas de Tóquio 2020, quando chegou a ficar sem guia. Julio foi ouro nos 1.500m e prata nos 5.000m no Mundial de Kobe, em 2024. Antes disso, também foi campeão nos 1.500m e bronze nos 5.000m nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago, em 2023.

´´Para mim foi muito difícil depois de Tóquio, eu fiquei sem guia. Agradeço muito ao meu ex-guia e ao meu terceiro guia, e aos que começaram essa trajetória comigo. Além da Maria Gusson e Alex Leco, minha psicóloga e meu coach. Eles fizeram diferença nesse trabalho mental, era onde eu sabia que tinha que melhorar, pois nos treinos eu respondia bem, mas chegava aqui e não conseguia. Dessa vez, senti que cheguei para ganhar essa bagaça. Tive ansiedade, fugimos um pouco da estratégia confesso, mas conseguimos´´, disse.

O maior desafio de Julio nesse ciclo foi manter a saúde mental. O atleta falou sobre a dificuldade de concentração que teve durante as provas e destacou a importância do acompanhamento psicológico para ser campeão paralímpico.

´´Eu tinha um problema muito grande de concentração, de controlar o mental. Chegava na competição, e eu estava bem, fisicamente muito bem condicionado, mas na hora H não correspondia. Trabalhei muito com minha psicóloga e meu coach essas questões. Ontem falei com eles: “Tô nervoso”, e eles falaram: “É normal, mas você vai reagir bem e conseguir controlar”. Foi isso que eu fiz e agora sou campeão paralímpico. A gente merecia isso, zeramos o Jogos.

Fonte: GE

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