Flavia Saraiva chega aos 25 anos como referência para jovens ginastas: “É o que a gente constrói”

Ao lado de Jade, Flavinha é um porto seguro para atletas jovens como Julia Soares e Ana Luiza Lima: "Quero estar com essas meninas nos momentos bons e nos ruins"

Por Rodolfo Augusto

Foto: Rebecca Blackwell (AP)

Flavia Saraiva chegou aos 25 anos nesta segunda-feira (30) acumulado a experiência de quem disputou três Olimpíadas, mundiais e enfrentou lesões, quedas e decepções antes de conquistar sua primeira medalha olímpica, o bronze por equipes em Paris 2024, e um ótimo nono lugar no individual geral. Nos Jogos Olímpicos, encantou com passos de fada e impressionou com o olhar de puma, concentrado, depois de cair no aquecimento, cortar e supercílio e voltar para se apresentar com a ferida suturada. Por trás da ginasta decidida, no auge da forma, existe uma outra Flavinha que só quem treina com ela conhece: a mulher que abraça as atletas mais jovens e tenta dar a elas a segurança necessária para crescerem no esporte.

Aos 18 anos, Julia Soares era a única ginasta ainda adolescente na seleção que disputou as Olimpíadas de Paris. Além disso, era a única que não treinava junto com as outras no dia a dia, no Flamengo. Atleta do Cegin, o Centro de Excelência de Ginástica do Paraná, Julia nunca se sentiu deslocada no meio de Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira e Flavia Saraiva. Foi abraçada por todas, especialmente Jade, a veterana da equipe, com 33 anos, e Flavia.

´´As meninas me acolheram superbem justamente por isso, porque a gente não treina junta. Me abraçaram de uma forma… A Flá e a Jade todo dia iam no meu quarto. A Flá me mostrava vídeos, a gente fazia cabelos juntos, eu e a Flá. A gente via os vídeos e a gente construiu uma amizade. Quando eu soube que eu era finalista (em Paris), a Flá veio com um sorriso enorme no rosto. Ela me trouxe tranquilidade´´, contou Júlia depois de ganhar o primeiro lugar individual geral no Brasileiro de Ginástica, em setembro, pouco depois de ter completado 19 anos.

Nessa mesma competição, realizada em João Pessoa, Ana Luiza Lima, também de 19 anos, sofreu uma ruptura de tendão de Aquiles direito, pouco tempo depois de se recuperar da mesma lesão, só que do lado esquerdo. A ginasta se deparou com a perspectiva mais uma cirurgia e mais sete meses parada. Chorou, sofreu, mas teve o apoio imediato de Jade e Flávia, que choraram junto com ela. Flavinha ainda a acompanhou até o hospital onde fez a ressonância magnética e não saiu do seu lado.

´´Hoje eu estou me sentindo um pouco melhor, ontem foi muito difícil´´, disse Ana no dia seguinte à lesão, há oito dias: – Não é a primeira vez que eu passo por isso. Na hora eu já sabia o que tinha acontecido, de novo tendão. Foi muito difícil, mas tive ajuda para lidar de uma forma melhor, do Minas, da Flávia e da Jade, sempre do meu lado. A Flávia é a minha melhor amiga. Eu considero a minha família, ela e a Jade. A Flávia é muito incrível. Ela tem um coração enorme e merece tudo de melhor desse mundo.

Em um post no Instagram, Ana Luiza agradeceu às amigas.

´´Meu agradecimento especial para a equipe do Minas, que sempre faz de tudo por mim, e para a @jade_barbosa e @flavialopessaraiva. Amo vocês 🤍 vai ficar tudo bem mais um vez…´´, escreveu.

´´Muito orgulho de você ❤️ ´´, respondeu Flavinha.

Flavinha sabe o quanto o apoio de uma atleta significa para a outra, o quão importante é ter alguém para segurar sua mão nos momentos difíceis como o passado por ano e para te aplaudir nos momentos de alegria, como a classificação de Julia para a final da trave. O aparelho, por sinal, é o seu favorito, e ela havia sido finalista na Rio 2016 e em Tóquio 2020. Em Paris, uma falha a tirou da final, e ainda assim ela preferiu incentivar a companheira de equipe a chorar. Um aprendizado que teve justamente com Jade, também citada por Ana e Júlia e oito anos mais velha que Flávia.

Assim que eu comecei, eu me senti muito abraçada pela Jade. Quando eu dei os meus primeiros passos, ela já estava ali do meu lado. Vi o quanto isso foi importante na minha carreira. E por isso eu quero estar com essas meninas nos momentos bons e nos ruins. Porque a vida é o que a gente constrói juntas´´, analisa Flavinha.

A ginasta ressalta que essa proximidade com as ginastas mais novas faz bem também para ela, a faz feliz.

´´A gente vai se aproximando porque eu quero me aproximar delas, eu quero conhecê-las, e isso é bom para mim também, isso me faz crescer. A Julia chegou na minha vida e eu já a amo. A Ana Luiza, eu sei o quão difícil é o que ela está passando. E eu fui lá dizer para ela que ela é braba, que o brilho dela é próprio, ela brilha muito. E eu demorei a ganhar a minha medalha, mas já há algum tempo eu entendi que eu brilho independentemente de medalha; a medalha é só um a mais. O meu brilho vem de mim, assim como o brilho da Ana vem dela´´, afirma a atleta.

Estrela da ginástica brasileira, Flavinha se prepara para um novo ciclo olímpico com a confiança de quem estreou no Rio aos 16 anos, ganhou sua primeira medalha aos 24 e sabe que ainda tem muito a oferecer para a ginástica e as ginastas.

Fonte: GE

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