Brasileiro, Libertadores e tribunais: Botafogo e Palmeiras escrevem mais um capítulo decisivo na rivalidade

Times fazem praticamente uma final de campeonato nesta terça-feira

Por Rodolfo Augusto

Foto: Nelson Almeida/AFP

Botafogo e Palmeiras se enfrentam nesta terça-feira, às 21h30, no Allianz Parque em jogo válido pela 36ª rodada do Campeonato Brasileiro, mas com cara de decisão. As equipes travam duelo direto pela liderança a três rodadas do fim da competição.

As equipes chegam empatadas com 70 pontos, mas o Alviverde ocupa a liderança por ter mais vitórias. O Alvinegro tinha seis pontos de vantagem em relação ao rival, mas vem de três empates seguidos e viu a distância derreter.

Esse é apenas o mais recente capítulo de uma rivalidade que vem se acirrando dentro e fora de campo nas últimas duas temporadas. Da disputa pelo Brasileiro de 2023, passando por provocações nas redes sociais, batalhas judiciais e um duelo na Libertadores de 2024, os dois clubes são dois dos grandes protagonistas do Brasil nos últimos anos.

O duelo mais recente, nas oitavas de final da Conmebol Libertadores, traz boas recordações aos botafoguenses. A vitória por 2 a 1 no Estádio Nilton Santos e o empate por 2 a 2 no Allianz Parque deram a vaga nas quartas de final da competição continental.

A classificação, inclusive, rendeu provocações nas redes sociais por parte do Alvinegro, resposta às confusões recentes entre as duas equipes. Tudo começa na partida entre os dois times no Allianz Parque em 2023, mesmo palco onde esse segundo ano de rivalidade será encerrado.

Duelos e tretas em 2023

Dentro de campo, os times protagonizaram dois grandes jogos em 2023. O primeiro deles aconteceu na 12ª rodada do Brasileirão, no Allianz Parque.

O Glorioso chegou à partida na liderança, com 27 pontos, seguido pelo Verdão, que tinha 22 naquele momento. A vitória por 1 a 0, com golaço de Tiquinho Soares, consolidou a equipe carioca como postulante ao título em 2023.

O reencontro aconteceu no dia 1º de novembro, data marcada intensamente na memória dos palmeirenses e botafoguenses. O jogaço no Estádio Nilton Santos terminou com uma vitória por 4 a 3 dos paulistas de virada. O Botafogo foi para o intervalo vencendo por 3 a 0 e ainda desperdiçou um pênalti com Tiquinho na etapa final.

Foi justamente o que aconteceu em campo que deu início às polêmicas fora dos gramados que continuaram pelos meses seguintes. A expulsão de Adryelson, no começo do segundo tempo, quando o Botafogo vencia por 3 a 1, foi o estopim para a confusão.

Após a partida, John Textor desceu até o gramado do Niltão, criticou a administração da CBF e pediu a renúncia de Ednaldo Rodrigues, presidente da entidade.

´´Isso precisa mudar. Ednaldo, você precisa renunciar pelo bem do jogo. Isso precisa acabar. Isso é roubo, me multa. Você não pode me expulsar, é meu estádio, eu vou continuar aqui´´, afirmou.

Os relatórios e provocações

A perda da liderança e, consequentemente, do título do Brasileirão foi seguida pela publicação de relatórios da empresa francesa Good Game!, que analisa arbitragem e movimentações de jogadores por meio da inteligência artificial, apontando que o Botafogo deveria ter 21 pontos a mais que o Palmeiras na competição.

Dias depois o Verdão confirmou o título brasileiro com um empate por 1 a 1 com o Cruzeiro no Mineirão. Entre as postagens que celebravam os heróis do título, provocações ao adversário na disputa por causa dos dossiês.

Ainda no gramado após o título, Leila Pereira, presidente da equipe paulista, chamou Textor de “desequilibrado”, o que foi respondido imediatamente pelo americano nas redes sociais.

´´No tópico de equilíbrio, é preciso observar que o time dela vive em um mundo em que jogar 11 contra 10 representa equilíbrio. O Palmeiras se beneficiou da vantagem de 11 contra 10 onze vezes durante a temporada 2023, um ano que as equipes tiveram a média deste benefício em 3´´, afirmou.

Negociação? Nem pensar

No começo da temporada 2024, especulou-se o interesse do Palmeiras na contratação do atacante Júnior Santos, que vivia um cenário incerto no elenco para 2024, em meio à reformulação feita após a perda do título de 2023.

John Textor, sócio majoritário da SAF Botafogo, foi às redes sociais para debochar do interesse palmeirense, usando inclusive uma referência ao 4 a 3 do Brasileiro do ano anterior.

O Palmeiras deveria comprar em outro lugar. Jogadores do Botafogo preferem 11 x 11

— John Textor

Acusação grave

Ainda no início de 2024, Textor afirmou em entrevista ao “Canal do Medeiros” ter provas de que os campeonatos de 2023 e 2022 foram manipulados para o Palmeiras.

´´Ano passado foi turbulento. Não vou deixar o que aconteceu ano passado passar batido. Estamos em uma nova temporada. Temos provas pesadas, 100% confirmadas de que o Palmeiras vem sendo beneficiado por manipulação de resultados por pelo menos duas temporadas. Desculpe se isso vai criar barulho, mas tenho provas, vou mandar aos procuradores. Estou aqui para defender a honra do meu clube. Posso prometer a vocês que ninguém vai mexer nas nossas partidas desse ano´´, afirmou.

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Brigas na Justiça

A disputa extracampo entre os gestores foi parar nos tribunais. Primeiro pelo lado de Leila. Os palmeirenses prometeram, em nota oficial, acionar Textor para que ele “responda pelas declarações irresponsáveis e levianas que, recorrentemente, têm envolvido o nome do atual bicampeão brasileiro”.

´´Se pensarem bem, minhas declarações não são fortes. Eu falo a verdade. No futebol é difícil alguém chegar e falar a verdade. É simples. Não é forte. É aquele negócio filosófico, isso é Nietzsche: “o quanto de verdade vocês suportam ouvir”. Eu falo a verdade. Quem é John Textor? É a vergonha do futebol brasileiro, um fanfarrão que tem que ser punido exemplarmente´´, declarou Leila na premiação do Campeonato Paulista.

A resposta judicial de Textor veio recentemente. Em entrevista exclusiva ao ge, o americano afirmou que contratou o ex-promotor do Fifagate Paul Tuchmann para processar a empresária nos Estados Unidos por conta do que falou sobre ele.

´´Ela cruzou a linha. Eu vou atrás dela. Eu contratei Paul Tuchmann, que teve papel determinante na queda de dirigentes da Fifa. Ele agora está no setor privado, é advogado. Eu vou olhar de forma responsável o que pode ser feito. Estou obviamente sendo atacado´´, disse Textor.

Passado de confrontos

Enquanto dois dos maiores e mais antigos clubes do futebol brasileiro, Palmeiras e Botafogo têm um longo histórico de confrontos, alguns deles marcantes por competições de mata-mata, como o Campeonato Brasileiro e Libertadores.

O primeiro confronto decisivo foi em 1962, quando o Glorioso bateu o Verdão no quadrangular final do Torneio Rio-São Paulo e terminou com a taça. Os dois ainda se enfrentaram em outro momento decisivo no Brasileiro de 1969, quando os paulistas levaram a melhor.

Três anos depois, disputaram a finalíssima do Brasileirão no Morumbi. O empate por 0 a 0 na partida única deu mais uma conquista nacional à academia palmeirense comandada por Ademir da Guia. A equipe de Jairzinho precisava vencer porque fez campanha pior nas fases iniciais do torneio.

Campeão e vice do Brasileiro se reencontraram no ano seguinte na Libertadores com os ânimos acirrados. O formato era com grupos de quatro times com os dois compatriotas sempre se enfrentando na mesma chave. Nesse cenário que Palmeiras e Botafogo travaram três duelos, os dois regulares, com uma vitória para cada lado, e o terceiro extra de desempate, valendo vaga na semifinal.

Foi com gol de Jairzinho nos minutos finais, em uma vitória por 2 a 1, que a equipe se garantiu na semifinal. Com direito, inclusive, a uma discussão entre o Furacão e o goleiro palmeirense Emerson Leão após o jogo.

´´Eu estava dizendo para ele “você lembra que eu te falei que ia meter gol e ia ganhar de você?” Eu falei para ele, que no Rio ia meter gol e ganhar dele. Não deu outra. Fiz um golaço. O Leão tinha uma personalidade forte, ele falou algumas coisas que não me agradaram e eu respondi. Respondi com gols, que é melhor ainda´´, contou o ex-jogador ao ge.

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